sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os filhos da PUC




Hoje eu acordei outra pessoa. Acordei viva, altiva, contente  e me sentindo útil. Ontem vivi algo que nunca me passou pela cabeça que um dia eu viveria e aquilo mexeu muito comigo. Sair de casa no fim da tarde, pegar o típico trânsito de São Paulo no horário de pico, tomar aquela chuva que parece que o mundo está acabando, ficar perdida procurando os amigos por algum tempo e finalmente chegar e viver tudo aquilo. Ver centenas de alunos amordaçados, com cartazes sobre democracia fazendo um protesto silencioso durante uma missa. Todos ali em prol de um objetivo em comum, todos dando seus gritos de guerra em busca do que desejam conquistar.  Aquilo foi mágico, insano, assustador, forte e confuso. Foi tanta coisa ao mesmo tempo que é difícil de explicar. E me arrepio toda só de pensar no que senti naquele momento. Alguns gritavam coisas imbecis, outros tinham os olhos cheios de lágrimas e outros levantavam terços. O clima era pesado, precisar viver tudo aquilo era triste. Mas ao mesmo tempo dava aquela sensação de pertencer tanto aquele lugar, onde os jovens dão o sangue por alguma ideologia. Entre os milhões de coisas que passavam pela minha cabeça a que falava mais alto era o que todos ficavam repetindo e eu até aquele momento não havia entendido: ‘’somos filhos da PUC e a PUC é nossa!’’. Parece precipitado dizer, afinal acabo de chegar, mas algum sentimento de repente me disse que os sonhos do ano passado tinham ficado só em algum lugar da memória, a faculdade que era uma das minhas últimas opções se tornou meu verdadeiro lugar e é ali que eu deveria ficar e com orgulho.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Um apelo à fase do ''não discuta comigo, você só tem 18 anos e eu tenho razão''



Juventude, dizem as más e boas línguas que é a melhor fase de nossas vidas, e eu acredito que seja mesmo. Mas é aquela época em que somos mais julgados, mais discriminados, mais rotulados como insolentes, bobos, imaturos e aqueles que não sabem de nada. E como isso me irrita! No auge dos meus 18 anos eu tenho muita coisa ainda pra aprender, muita mesmo, mas nesses anos todos eu não adquiri sabedoria alguma? Eu não consegui ter uma mente formada, livre de influências alheias? Eu falo por mim, eu adquiri informação, tanto acadêmica quanto sobre o viver em si e tenho uma mente formada. Claro que não tenho uma ideologia pra tudo, mas eu acredito que aos 18 se possa crer em algo com absoluta certeza a ponto de não mudar de opinião aos 80. Mas por que os adultos estão sempre dizendo que temos muita coisa pra viver ainda e que um dia daremos razão a eles? Não se pode discordar de alguém mais velho sem ouvir esse discurso já batido e ridículo. Se isso fosse dito a uma criança eu juro que entenderia, mas a alguém com 18 anos que estuda, lê muito, se interessa por jornais e revistas e uma das coisas que mais discrimina é a alienação? Pra mim não faz sentido. Acredito que eu possa mudar de opinião com mais frequência que alguém que está muito vivido e calejado dessa vida, mas quem é que não pode passar a pensar diferente com alguma situação, debate ou pura reflexão? Aos 5 se sabe o que é possível se saber aos 5 e isso acontece aos 18, aos 40, aos 90. Só não negue as ideologias da juventude assim como não negamos as ideologias dos mais velhos. Cada fase tem suas limitações e características próprias, chega de achar que os jovens não devem ser ouvidos ou levados a sério. Afinal todos vivem essa época e ela define uma grande parte do que você se tornará.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Título a ser definido, ou a definição do que preciso a ser titulada



Se alguém souber como é que se faz pra viver sem sonhar eu imploro que me ensine. Eu adoro fantasiar, idealizar, imaginar e isso me consome. Tenho o resto da minha vida escrito na minha mente, mas que bom seria se eu pudesse afirmar que tudo o que idealizo vai acontecer. ‘’Querer é poder’’ uma das frases mais tolas que já escutei. É claro que esse ‘’querer’’ vem acompanhado de um ‘’lutar’’ implícito na frase, não estou sendo tão superficial assim. Mas ainda sim continuo afirmando que essa frase é tola. Quem já não batalhou com afinco por algo e fracassou? Quase todos nós. E é nesse contexto que aquela outra velha frase tenta se encaixar - ‘’Se não aconteceu é porque não era pra ser’’- não gosto dessa também, dá aquela alusão de  conformidade sem grandes esforços e acho saudável a frustração. E o tal de ‘’O que é seu está guardado’’ que desagradável, nada está reservado pra ninguém não, vá à luta e conquiste! E nem adianta que ‘’Quem espera sempre alcança’’ é pura baboseira, fique sentado pra você ver! Clichês são detestáveis não são? E detestável também é essa minha mania de começar um texto com um assunto e terminar em outro. Mas enfim, se tiver com conselho sobre sonhos sem usar frases clichês me procure, talvez essa tenha sido a moral do texto. Talvez, talvez...

Ritual de Passagem


A menina acordou cedo, era o grande dia de sua vida e ela o temia. As malas já estavam quase prontas, faltavam a escova de dentes e alguns livros. Ela quis enrolar, tomou café lentamente e hesitava em tirar o pijama. Deixou-se à mercê dos sentidos, exprimia algo diferente de tudo aquilo que já havia sentido. Via sua casa com um carinho incomparável, olhava as pessoas à sua volta com ternura e aquelas malas agora já fechadas a assombravam. Olhou o relógio, em meia hora seu ônibus sairia. Aprontou-se numa velocidade duvidosa, tentava ser rápida para não chegar atrasada e lenta para perder o ônibus. Sentia-se exaustivamente dividida. Por fim sua mãe disse para irem logo e ela teve coragem de colocar as malas no carro. Seu pai ligou e ficou torturando-a com palavras de carinho e sermões de preocupação. Que viagem desesperadora de casa até a rodoviária... E logo chegou. Comprou a passagem e foi colocar as malas no ônibus. Chegara a hora. Sua irmã perguntou o que faziam ali e dizer a ela que iria viajar havia sido difícil. Pegou a pequena no colo e encheu-a de beijos -que saudade já sentia de tê-la todas as tardes por perto. O motorista disse pra se apressarem e a menina teve que se despedir de sua mãe. Não deu um abraço muito longo porque despedidas eram horríveis. Disse um breve ‘’Ligo quando chegar’’ e já se virou para entrar no ônibus. Achou sua poltrona, se sentou e atreveu-se a olhar pela janela. Lá estavam as duas abanando as mãos. A pequena se divertia nessa situação irradiando aquela típica luz que era só dela, e a menina não se aguentou mais e caiu no choro. Soluçava e abanava a mão. Sua mãe se virou de costas e tentou se segurar, mas quando tornou olhar a menina dentro do ônibus começou a chorar e a pequena agora não entedia o que estava acontecendo. A menina só desejava pular aquela janela e ficar ali, com as duas pra sempre. Mas o ônibus já estava quase saindo da rodoviária. Sua mãe reuniu as poucas forças que aparentemente ainda restavam pra dizer ‘’Eu te amo, muito!’’ e a menina só conseguiu se apertar contra a janela o mais forte que pode e chorar com o nariz encostado ali. Por minutos ela chorou de desespero, que aperto no peito...  Até que caiu no sono. Acordou com um solavanco, o ônibus havia parado. Ela desceu, foi até o banheiro lavar o rosto e decidiu que era tempo de crescer, ela iria pra grande cidade sozinha e aguentaria firme a saudade, a solidão, o desespero e a incerteza. Ela veria luz, gente, cultura, música, liberdade, alegria. E se lembraria desse dia com felicidade, aquele momento na rodoviária fora um dos mais fortes que ela já tivera. O olhar triste de sua mãe sobre ela e o desespero da menina por abandonar a família mostravam como as duas haviam crescido como mãe e filha, elas tinham superado todas aquelas barreiras que sempre existiram entre as duas, de repente o passado não tinha mais importância nenhuma, todo aquele sentimento estampava só amor, cuidado, saudade e ela nunca se sentira tão amada como naqueles instantes em que havia tanta transparência. E o melhor de tudo era saber que antigas vontades que tinha quando pequena -a de sumir e nunca mais voltar, de não se agarrar a nada, de não depender de ninguém- eram só tolices agora, ela ansiava por voltar. Ela finalmente amadurecera e agora sabia que tudo o que já doeu não deveria ser esquecido, ela se tornara o que é justamente pelo que passou, mas o que doeu só tinha que ser uma história que acabou e que dali em diante as linhas traçadas deveriam ser outras. Ela mudara e sua vida mudaria também.