''Ainda vão me matar numa rua.
Quando descobrirem,
principalmente,
que faço parte dessa gente
que pensa que a rua
é a parte principal da cidade''.
Esse trecho retirado do novo livro ''Toda poesia'' de Paulo Leminski diz muito sobre o que nós, jovens sonhadores e cidadãos politizados e ideológicos, estamos passando. Vemos o clamor do povo não só aqui no Brasil, mas quero falar em particular sobre meu país.
Eu já escrevi um texto, que foi postado aqui, contando a minha experiência como puquiana que não aceita a mulher que se diz reitora e que quer uma faculdade laica. Mas as infinitas sensações que tive aquele dia na PUC não chegam nem perto das que tive ontem. Eu e milhares (quem saberá ao certo?) de pessoas saímos às ruas com o intuito de lutar pelo o que acreditamos e queremos. Demos a cara à tapa, estávamos de peito aberto pra enfrentar a PM truculenta, seus humilhantes cassetetes e suas desonestas bombas de efeito moral e de estilhaço. Nós marchamos por horas sem vendas, armas ou escudos. Fomos às ruas com gritos de guerra, cartazes e flores. Nos tornamos a notícia mais importante do dia. Saímos em noticiários internacionais. Obrigamos a Globo a admitir nosso poder. Mostramos para o país que a PM é abusiva, truculenta, um resquício da ditadura. Provamos para todos que manifestação se faz nas ruas e não no Facebook. A geração Coca-cola é mais forte do que todos pensavam. E estou orgulhosa de ser parte da juventude perdida que sai às ruas sem medo do que poderá acontecer. Se isso é ser perdido eu quero ser perdida a vida inteira. Ontem foi a tarifa do ônibus, que amanhã seja a educação, que semana que vem seja a saúde e que mês que vem todos vejam que ser conformado é aceitar tudo de ruim que é conservado há décadas.
Orgulho de ser brasileira? Não, isso não. Meu orgulho é por todos que sempre tiveram ideologia e lutaram por elas. O Brasil não acordou, eu e tantos outros já estávamos acordados há muito tempo.
Leminski pra me ajudar a sonhar mais uma vez:
''Depois de hoje
a vida não vai mais ser a mesma
a menos que eu insista em me enganar
aliás
depois de ontem
também foi assim
anteontem
antes
amanhã''.

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