domingo, 29 de junho de 2014

Por 20 com mais cara de 15

Fazia tempo que eu não vinha aqui, tava com saudades. Na verdade fazia um tempão que eu não escrevia sobre meus sentimentos. Nos últimos meses escrevi demais, mas quase nenhuma palavra sobre mim, me debrucei em: documentos do Centro Acadêmico, resumos de Economia, mensagens no whatsapp, matérias pra publicar, notas de solidariedade. Mas e eu? Sei lá, eu só não queria escrever, porque os últimos textos sinceros que eu me lembro de ter feito me fizeram chorar de desespero, sentir aos montes e me afastar do mundo. Mas eu me aproximei tanto de mim, tanto. E por que agora não quero? Eu sempre faço isso: adormeço tudo que me faz tão eu, porque uma boa parte de mim é feita disso mesmo, de choros sufocados, sentimentos extremos e de um mundo que eu desgosto tanto. Mas afinal, por que eu não gosto de mim assim? Eu sempre sonhei com a vida que eu levo hoje e, pra ser sincera, agora que eu a tenho, eu acho um bocado chata, pequena e por vezes vazia. A grande ambição de sair de casa e ter todos os sentimentos doídos expirados pra Marte instantaneamente parece concretizada, mas o que me falta admitir é que nada sumiu, tá tudo aqui. São Paulo me apresentou um leque de desejos que me confundem, me atormentam e me machucam. As pessoas que eu conheci aqui me mostram diariamente que é possível ser maior cada vez mais. E eu me sinto tão pequena sentada nesse sofá do apartamento 71 do bloco C, do número 300, da Rua José Antônio Coelho, do bairro Vila Mariana, da Zona Sul da cidade de São Paulo, do estado de São Paulo, da região Sudeste do Brasil, da América do Sul, da Terra, da Via Láctea. Prazer! Não gosto de escrever, porque me faz remoer fraquezas, desejar grandezas grandes demais e pensar muito em sentimentos. E eu não sei lidar com nada disso (e nem com o resto do mundo). Cada vez mais eu quero encher meus dias com pessoas, barulhos, músicas, conversas, ativismo, política, festas pra ver se cabe mais o mundo e menos eu dentro de mim. Mas não tá certo isso, tô perdendo uma parte de mim que a Marcela de cinco anos atrás se agarrava. Tô querendo sentir menos, porque tô sentindo tanto e tô desejando com todas as minhas forças me desligar de tudo e de todos que eu dependo. Tenho 20 anos há menos de dois dias e tô sendo mais criança que quando eu tinha 15. E tô sendo mais fraca também - e mais calculista e mais exagerada e mais insegura e mais a lista segue e não termina blá blá blá. Antes de mais nada, esse desabafo confuso é uma tentativa de me trazer de volta, por mais que grande parte de mim não queira. Quero passar domingos sozinha sem me sentir solitária, quero chorar por besteiras sem me importar, quero me chamar de sentimental e não de babaca (tô seguindo seu conselho, mocinha que lerá isso em algum momento), quero parar de esperar se ele vai me chamar pra ir ao cinema e ir eu mesma, quero ler mais livros, quero sair por essa cidade com uma máquina, um lápis e um caderno, quero admitir que sou loucamente apaixonada pelos meus amigos e pela minha família e que isso não deve me fazer mal, quero terminar esse texto e me amar ainda mais, porque meu maior presente nesses 20 anos deve e vai ser minha reconciliação comigo mesma - aquela chorona, sentimental, doída e que escreve.