Era fim de tarde, a noite já caía. São Paulo estava como normalmente está nesse horário: trânsito insuportável, pessoas sempre correndo, transporte público lotado. Um empurra-empurra no ônibus, um sofoco pra se sentar, mas ela conseguiu. Com a cabeça encostada na janela mal via o que passava por seus olhos. Por longos minutos só pensou nas várias coisas que tinha pra fazer na faculdade, nas dificuldades do dia-a-dia, na saudade de casa. Nem percebia o mundo lá fora.
Quando parou com devaneios percebeu que o ônibus tinha parado no semáforo e que já estava na Paulista. Avenida sufocante, cheia e iluminada. Assustou-se com o tanto de gente que passava pelas largas calçadas, parecia um formigueiro. Ninguém se olhava, sorria ou pedia licença. As pessoas pareciam robôs. Será que ela era assim?
Não teve tempo de refletir, quando olhou para a calçada de novo viu que um senhor de cabelos compridos e brancos tocava violino. Estava sentado num banquinho baixo e conduzia seu instrumento de olhos fechados. Ele usava um colete colorido por cima da camiseta e uma boina cinza. Parecia tocar o violino com uma facilidade imensa enquanto esperava por alguns trocados que poderiam ser deixados na caixa do instrumento à sua frente. A multidão passava apressada, ninguém parava para apreciar aquela melodia. Enquanto a garota pensava o quanto isso era triste, um casal parou, trocou olhares e se abraçou. Os dois começaram a dançar de olhos fechados, unidos pela música que ecoava naquela avenida fervorosa no horário de pico. Era uma mulher magra, esbelta e de aparência serena. Usava um vestido longo e um casaco por cima. Seu par era um homem alto e barbudo, que usava roupa social. Os dois rodopiavam conforme a música sem se preocuparem com a multidão que desviava deles. Aos poucos as pessoas foram parando para olhar e sorrisos afloravam de bocas antes cheias de preocupações. O senhor que tocava abriu os olhos e sorria. Moedas e notas caíam sobre a caixa de seu violino. E o casal continuava embalado pela melodia sem abrir os olhos.
O semáforo abriu e o ônibus se moveu. A garota não pôde mais ver o casal ou o músico. Por alguns instantes ficou pensando na cena que a deixara tão emocionada e esqueceu suas preocupações. Sentiu um solavanco, então olhou para o lado e se lembrou que estava num ônibus lotado. Não pôde deixar de escutar a conversa de duas mulheres que estavam sentadas à sua frente:
— Essa Paulista enche o saco, hein?
— Pois é! Odeio perder meu tempo aqui, ainda tenho que passar no mercado.
E a garota pensou: ‘’Será que tem leite lá em casa?’’
OBS: Eis mais uma atividade de faculdade que é muito Infinito Particular
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